Nós, enquanto jovens originários e verdadeiros protagonistas de nossa História, continuamos a luta para que nossa realidade seja vista, ouvida e respeitada pela sociedade.
Quando criança não sabia o porquê de tantas reuniões na minha comunidade. Às vezes participava apenas por curiosidade de saber o que estava acontecendo ali. Fui crescendo e tendo noção das coisas e entendendo que nós não tínhamos uma saúde de boa qualidade e uma educação diferenciada. Por conta disso vi a necessidade de estar juntamente com minha comunidade me posicionando em busca de algo que pudesse melhorar nossa realidade.
Atualmente na T.I Rio Pindaré, estima-se que mais de 40 jovens estão na universidade em cursos superiores. Incluindo eu, que faço Administração, e Brenda Guajajara, que cursa Pedagogia, ambas na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Em uma conversa entre os universitários indígenas, notei os relatos de Brenda Guajajara em que fala de seu protagonismo e suas dificuldades.
Nós, enquanto jovens e verdadeiros protagonistas de nossa História, continuamos a luta para que nossa realidade seja vista, ouvida e respeitada pela sociedade. Sociedade essa que insiste em propagar a ideia de que os povos indígenas são seres incapazes. Que não podem sair da aldeia ou do território que deixam de ser Originários. O Ser Indígena é algo que vai muito além de só estar dentro de uma terra Indígena, o Ser indígena é a luta, é resistência, é o sangue, sangue que foi derramado de nossos ancestrais, o sangue que corre em nossas veias.
“Eu sou universitária, estou cursando Pedagogia pela Universidade Estadual do Maranhão, e dentro da universidade eu sempre procuro estar representando o meu povo, levando a minha voz, porque antes esses espaços, como universidades e vários outros âmbitos, havia poucas representatividades indígenas, e por mais que enfrentamos preconceito e descriminação, eu enquanto jovem, mulher e indígena sigo lutando e fazendo com que minha voz seja ouvida e respeitada. Pois foi através de muita luta e resistência de nossos ancestrais que estamos aqui hoje, resistindo. Atualmente, uma das principais ferramentas utilizada por nós é as redes sociais e a internet, utilizada principalmente para a comunicação. Ela dá mais visibilidade à nossa luta, à nossa voz. E através dela estamos quebrando alguns estereótipos, quebrando essas ideologias colonialistas que se baseiam na ideia de que nós, ao adentrar em espaços que não seja uma aldeia, vamos perder a nossa identidade. Mas a verdade não é essa, pois todas essas experiências e conhecimentos só nos dão uma visão ampla e nos fortalecem mais ainda na busca dos nossos Direitos”.
Brenda Guajajara
Universitária
Somos protagonistas de nossa própria História, História essa que durante muito tempo foi contada e representada por outras pessoas que distorceram e mentiram tentando apagar e destruir nossa identidade. Mas resistimos, e hoje estamos aqui, falando e, se for o caso, gritando pra sermos ouvidos, e dizer que temos nossos Direitos e que precisam e devem ser visto e respeitados.
Jovens guardiões
Temos na T.I. Rio Pindaré o grupo de guardiões que foi oficialmente formado em 2015 por jovens que viram a necessidade de ter pessoalmente o contato com o seu território para protegê-lo. Desde então seguem na luta da proteção territorial, reflorestando, protegendo e cuidado do pouco que temos. O coordenador do grupo diz que os guardiões fazem isso por amor e por respeito aos nosso ancestrais, outros guardiões que vieram muito antes deles, que lutaram muito pra deixar isso que temos hoje.
Umas das maiores conquistas obtidas até hoje é o reconhecimento do lago chamado Bolívia estar dentro do nosso território judicialmente. Pois esse conflito se estendia há mais de 20 anos. Meu pai conta que meu avô e ele lutaram, mas nunca conseguiram resolver nada, porque os órgãos que eram competentes pra resolver nunca se importaram tanto. Porém hoje juntamos nossos conhecimentos, os anciãos com a sua grande sabedoria e nós, que estamos aprendendo todos os dias com eles e usando o conhecimento do não indígena para beneficiar e trazer melhorias para nossa comunidade.
Mulheres e juventude
As mulheres seguem na luta juntamente com os guardiões, ajudando e obtendo voz não só dentro do território, mas fora também, e sendo reconhecidas e respeitadas. As mulheres fazem um trabalho de sensibilização em torno do território, fazem palestras sensibilizando os povoados próximo ao território para que respeitem nossas terras para que tenhamos uma boa comunicação. Porque hoje não queremos mais ir pra guerra, queremos conversar e queremos resolver da melhor forma possível. “Mas se for caso de ir, iremos”, disse uma das mulheres em uma reunião com os caciques.
Jovens guardiões Guajajara protegem as matas, as águas e o território seguindo os passos dos mais velhos
Outro grupo que representa muito o protagonismo jovem indígena é o grupo de jovens Zawato, da T.I. Caru. São os jovens do grupo que fazem um trabalho muito importante não só dentro do seu território, mas em toda a região norte do Maranhão. Ele cantam e produzem artesanato, e são conhecidos por suas participações em festas culturais, pois eles encantam com as cantorias feitas. São uma organização que faz de tudo dentro de sua comunidade. As meninas produzem seus próprios adereços das festas.
TEXTO: DJELMA GUAJAJARA
FOTOS: GENILSON GUAJAJARA