28 de outubro de 2021
Ancestralidade: a narrativa quilombola

Não se prende o que não se pode ver: eu sou a própria liberdade. Assim como a água e o ar, eu, a ancestralidade, não tenho fronteiras.

O centro é circular, assim como o caminho, e eu-liberdade, tenho saudades do meu lugar no Quilombo. Desde sempre ouvi dos velhos (jovens há mais tempo) sobre a pedra fundamental, A MEMÓRIA, que só serve viva, coletiva, compartilhada.

Movimento

No movimento desse tempo, século XXI, já passados quase quatro séculos, 344 anos, vejo assentamento, vejo firmamento. No girar, vejo a minha história, a memória que tentaram apagar.

“Hoje, narro a vida sobe Giras, Giros, em meio a tecidos coloridos, alegres, vivos. Assim é também o som, o toque, o tambor: afinado pelo fogo ele também me afina, lembranças doutros tempos. O ano de 1676 me atravessa desde a mãe do corpo: o ORÍ.”

——-  

Ancestralidade, a que foi-é-está sendo-será

Orí

No corpo guardo, o paladar, os contos, narrativas de Quilombo, a História que caminha e não morre, a memória da carne. Guardo no corpo segredos, assim como a cabaça, a guardiã da vida.

Conto pouco, pois nem tudo se pode contar, a história é melindrosa. Mas quem dá o beber, dá o de comer. No Quilombo como no centro é assim, Festa-Liberdade, é partilha, é alimento, é luz.

Abençoado seja o espírito da Liberdade, que é Erê – filho de dois mundos, o que tudo vê. ASÉ, EXÚ é multiplicação, não da carne, mas do espírito. Não está em cima, é intimidade, são as relações do fundo.

Natureza das coisas, ensinamento e  matriarcado é o que os olhos revelam, é a pedra fundamental da narrativa, é a segurança, a garantia da vida, do bem-viver.

Nesse Matriarcado, somos filhos, herdeiros legítimos do mundo Rainha Preta. O meu, nosso corpo, é a raiz diaspórica, o segredo, o forjamento, a pedra da memória coletiva.

Sou corpo Preto, sou a fúria da natureza, equilíbrio – mata, ação sem reação, sou a verdade visível de um mundo onde nada se pode ver. Eu sou a ANCESTRALIDADE, a continuidade de milhões de Histórias, a MEMÓRIA das VIDAS. 

Ilustrações e texto: Zica Pires

MAIS RECENTES

III Encontrão e Mostra Audiovisual da Jacá: Juventude, Comunicação Popular, Resgate Ancestral e Direitos Humanos no Maranhão

III Encontrão e Mostra Audiovisual da Jacá: Juventude, Comunicação Popular, Resgate Ancestral e Direitos Humanos no Maranhão

Piquiá de Baixo, Maranhão, Brasil: uma comunidade resistente que completou 19 anos de luta por reassentamento e reparação integral, enfrenta diariamente os impactos das grandes indústrias de mineração, atravessada pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), com seus direitos humanos violados. No entanto, falar de Piquiá de Baixo não se resume ao sofrimento. A comunidade é […]

Faça parte da Agência Zagaia

Se você é originário, quilombola, de povos e comunidades tradicionais e trabalha com texto, áudio, vídeo, ilustração, foto, cordel, canto, dança – ou outra forma de comunicação – e quiser contribuir com a Zagaia, manda uma mensagem pra gente utilizando o formulário ao lado. Bóra comunicar!

1 + 8 =

Apoio